Professoras falam de vivências na pandemia

Ações na área da Educação

EDUCAÇÃO: SEMESTRE É MARCADO POR SUPERAÇÃO E APRENDIZADO

Passado o primeiro semestre de aulas e atravessando muitas diversidades como a empolgação do retorno presencial logo no início do ano, depois o cancelamento devido às restrições da Bandeira Preta, após o retorno de forma híbrida e agora a possibilidade de retorno integral para o próximo semestre, a educação procura se adequar para acompanhar esses cenários da melhor forma e com a menor possibilidade de perdas na aprendizagem.

O ano letivo iniciou ainda no mês de fevereiro de forma remota, sendo que no mês de março a Secretaria de educação realizou uma pesquisa com os professores para buscar dados sobre diferentes aspectos da educação como: sugestões de formações, qual era a visão do professor referente à forma de ensino, do modelo das aulas, da situação dos alunos, como estava o lado emocional do professor, estrutura física das escolas e outras questões que irão colaborar para nortear ações da secretaria. Nos meses de maio e junho, ocorreu o retorno das aulas presenciais de forma híbrida. Neste retorno, os professores das escolas municipais realizaram avaliações diagnósticas para identificar os diferentes níveis de aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades durante este período de excepcionalidade de ensino.

 

Além disso, também foi realizada uma avaliação externa com os alunos do 1º ano ao 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Olavo Bilac. O intuito dessa avaliação foi possibilitar aos alunos um modelo de avaliação dentro do proposto por provas como a da SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e da SAERS (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul) e também para ajudar os professores a visualizar como está o nível de aprendizagem dos mesmos, apontando direções nas atividades a serem desenvolvidas no segundo semestre.

Para a secretária da Educação, Eliana Zenere Giacobbo, “nossa grande preocupação é com a segurança de todos, mas também com o aprendizado. Estamos buscando parceria com as famílias, principalmente para os alunos da etapa alfabetização, pois esses alunos tiveram a maior perda por não aprenderem a ler e escrever. Teremos reunião com os pais desses alunos para debater como podemos recuperar, melhorar e encontrar ações mais eficazes, para que juntos possamos ter melhores resultados, mas tenho certeza que sem a colaboração dos pais, mesmo com a união e empenho da escola, psicóloga, psicopedagoga, reforço e os professores não será possível alcançar os resultados da maneira que desejamos.  Precisamos da família junto.”

Em relação a formação pedagógica que a secretaria proporcionou aos professores, a secretária enfatiza que “tivemos dias para formação e reuniões pedagógicas para debater esses assuntos, paramos para um pequeno recesso, pois sabemos que esses tempos foram muito instáveis e demandaram diversas adaptações dos profissionais e mesmo pessoas bem estáveis emocionalmente, acabaram abaladas. Os profissionais precisam estar bem para atender bem as crianças e necessitam de descanso.  Virá o segundo semestre e ainda muitas dúvidas, mas seguimos fazendo o possível para atender todos os alunos, buscar olhar especialmente para os que ainda precisam aprender a ler e escrever, dar atenção aos profissionais, estando dispostos ao diálogo com a família, Conselho de Educação, profissionais e alunos.”

A secretária também falou sobre os desafios neste tempo diferente. “Temos grandes desafios na educação de nosso município, pois além da pandemia também temos a situação da redução de número de alunos na EMEF Olavo Bilac resultando em perdas significativas do FUNDEB, indenizações para professores (precatórios) e contratação de mais profissionais para atender a demanda deste momento específico e único, limitando os recursos cada vez mais. Pensamos juntos, em conjunto, e fazemos o que está no nosso alcance, sempre com vontade de fazer muito mais. A educação de boa qualidade pode mudar o mundo e precisamos contar com a colaboração de todos.”

 

RELATOS DE PROFESSORAS

Em cada profissão, seja com trabalho na indústria, na propriedade, em setores administrativos, entre outros meios, tem suas peculiaridades e a educação tem a ver com a formação do ser humano, de pessoas que buscam conhecimento para o seu futuro. E o professor é esse instrumento, e a pandemia provocou mudanças também nos hábitos e formas de ensinar, exigindo mais dos profissionais da educação. E com toda a superação e aprendizado descritos, professoras da EMEI Amiguinhos do Coração e da EMEF Olavo Bilac descreveram como vivenciaram estes tempos diferentes. Confira:

 

“COVID 19: UM DIVISOR DE ÁGUAS"

"Desde os primórdios ouve-se dizer que a Educação Escolar é a base para o desenvolvimento de uma sociedade, e é.  A trajetória da educação brasileira passou por diversas modificações e muitos avanços até chegar à declaração legal de que a educação é um direito de todos e dever do Estado prover este direito. Além de ser um direito de todos, é recente a escolaridade obrigatória em suas três etapas dos quatro aos dezessete anos de idade em nosso país.

Em tempos remotos, a educação escolar era privilégio de poucos e quem tinha acesso a ela era dono de um exímio conhecimento.

Muito já se fez para ter uma educação de qualidade em nosso país. Buscamos um patamar elevado, porém com tantas mudanças na era da tecnologia, nos perguntamos: qual é o perfil da escola ideal? Aqui me aproprio da famosa frase da Semana da Arte Moderna de 22: “Não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos.” E o que não queremos é a mera reprodução.

Hoje, a educação escolar está ao alcance de quem quiser, porém temos a percepção de que os resultados não são os almejados. Culpados? Talvez todos nós.

Com a inesperada pandemia em pleno século XXI nos sentimos obrigados a mudanças.  Assim como a pandemia da COVID 19 veio para pontuar a história, acredito que seja um divisor de águas: Educação “a priori” e Educação “a posteriori”.

Com quase dois anos de atividades escolares remotas, tomou-se tenência da importância do ambiente escolar para a educação, não apenas para o conhecimento, mas para a formação complementar do indivíduo na sua integralidade humana.

Não é utópico, é real. A pandemia nos trouxe a percepção de que podemos ter os melhores equipamentos tecnológicos, porém a ESCOLA nunca será substituída.”

Julho de 2021 / Marisete Thomazi / Professora

 

 

“RELATO DA PANDEMIA"

"Olha como são as coisas? Eis que me pediram para escrever, sobre o que sei dizer sobre está fatídica era em que vivemos, a tão famosa pandemia do momento. Justo eu que tenho tanto a falar, que quero expressar como o meu coração pulsou e ainda quer pulsar.

Acredito no poder do universo que se move conforme nossas intenções e reações perante a vida, elucidando as palavras de Deus e mostrando o quanto Ele nos permite ser o que nosso livre arbítrio manifestar querer e o quanto Deus permite que tenhamos toda a abundância e maravilhas deste mundo, basta tão somente crer.

Pois bem, como contar, ou por onde começar a falar sobre algo que pra mim já teve muitas versões. A pandemia já me causou pavor, indignação, aversão. Já a chamei de mentirosa, entre outras discussões que me fizeram falar sozinha, onde ela, a pandemia, nunca me deu resposta, se quer se defendia. Ela somente chegou em um belo dia, de trabalho corrido, onde despertar na madrugada era rotineiro e seguir a minha vida de professora era algo que fazia com todo o amor no coração, na manhã, educação infantil e à tarde, séries iniciais, sonho que havia muito bem realizado.

Naquele dia eu só tinha o corpo cansado, mas tudo poderia seguir igual, afinal, era normal tudo sempre continuar. Eis que nos avisam que tudo tem que parar e algo inédito iria iniciar. Mal sabíamos que aquele combinado de 15 dias, iria se estender, longos meses sem saber que fim isso ia dar. Então quase tudo parou!!! Não tínhamos perspectiva nenhuma. O que sabíamos era que teríamos que nos adaptar. Quem tem filho tinha que remanejar, avó, tia, vizinha, vamos agrupar as crianças, vamos nos adequar.

E neste meio tempo, nós professores, seguimos o barco, em meio ao caos, dando um jeito para realizar a nossa função que mal sabíamos nós que a distância não saberíamos ficar. E seguimos lutando pela educação, não medindo esforços para educar, mesmo de mocinho, nos tornando vilões. O professor seguiu ferido, tentando se adequar, trabalho dobrado e aprendendo a lidar naquele momento com algo que foi difícil de aceitar. Nos chamaram de vagabundos, mal sabendo o mundo o quanto não queríamos parar. Não entendem a nossa profissão, que é mais que uma missão, mas que precisamos estar, presentes e ativos, que a educação é contato, afeto e abrigo, é muito mais que o be a bá.

Fomos julgados a grosso modo, mas como essa pandemia não dá colo, tivemos que aguentar. Resiliência é a palavra escondida, é a cura da ferida mesmo sem cicatrizar. E de preguiçosos e que recebem sem trabalhar, passamos a outro patamar, o de heróis novamente, pois alguns pais perceberam a semente que deixamos de plantar. Pais se viram apertados com seus filhos no colo, onde tudo teriam que ensinar, além das coisas da escola, agora seria a hora de cuidar e educar. Educar fatos básicos como valores e direitos, algo que, meus senhores, com todo o respeito, na faculdade não vão lhe dar, algo que os professores, com a mania de serem educadores, sabem muito bem repassar. Repassamos muito mais que respeito, somos formados em direito, e outra coisas mais, pois além de mediar conflitos, ensinamos além do que está escrito, ensinamos a amar.

Somos também psicólogos, enfermeira, cozinheira, costureira e até lavadeira, quando alguém se sujar. Se sujar a roupa na escola, damos um jeito na hora, para a mãe não xingar. E como fazer tudo isso? Pergunto pra quem tem juízo, para logo me informar. De que jeito se faz uma escola, onde agora, tudo a distância temos que mandar? Como faremos nesta hora? Como explicar que a escola é muito mais que ensinar? É algo que acontece quando o amor floresce aqui dentro e onde deixamos rolar. Deixamos acontecer o sentimento, o que for flexível àquele momento, conforme for, vamos lá! Agora teremos que ser professor que ensina bem direito, que ensina a ensinar, ensinando aos pais um momento que só está explicado aqui dentro do coração de cada um.

Como explicar um sentimento que surge a cada momento que recebemos um olhar, um olhar puro de criança, onde nosso gesto ficará na lembrança daquela infância da vida. Agora precisamos educar, sem sequer conhecer o rosto, reação ou sentimento no olho, que aquele aluno expressou no momento de amor, na hora que o professor começa a ensinar.

E ao retornar este ano, as carinhas com aquele pano, mal podíamos enxergar, a expectativa contida, naquela pequena vida, que recomeçou a socializar. Protocolos a seguir, regras a cumprir, vamos lá! Álcool a toda hora, bóra trabalhar. O difícil é manter nesta hora o impulso de não abraçar, apertar e dar aquele beijo, que nos alegrava o peito e nos colocava de jeito a gratidão por recomeçar. Recomeçar o dia ou a semana, que agora com esperança vamos nos focar.

Felizmente muitos pais perceberam, que não há dinheiro que possa pagar, as mil funções que o professor sabe expressar. Que além de educador é alguém que sabe amar. Amar, sim, é preciso, pois ninguém com juízo, aprende sem se envolver. “És responsável por aquilo que cativas” bem dizia aquela história, e as crianças aprenderão com a vida, conforme o tempo seguir, mas não esqueça que aprenderão teus ensinamentos, mas o que de fato nunca se apagará, não são as palavras ditas, nem a cartilha preenchida, muito menos o be a bá, será antes o sentimento, que tocou aquele momento que o professor começou a olhar. Olhar no fundo do coração, aquilo que nem sempre a expressão dará conta de demonstrar. Olhar aquele sentimento lá de dentro e com todo o entendimento o professor puder aconchegar. Isso, sim, ficará para a história e ficará na memória, muito mais que aquela pandemia, pois aquela professora sabia como de fato ensinar.”

Julho de 2021 / Débora Elis Soares / Professora

Data de publicação: 28/07/2021

Compartilhe!